Pier Paolo Pasolini: Ser homem é ser vasto e perigoso
- Inês Paredes
- 10 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

Não houvesse sido assassinado naquela praia de Óstia na noite de 2 de novembro de 1975. Tivesse sobrevivido. É apenas especulação imaginar se Pasolini ainda estaria entre nós hoje, tivesse sido dado a ele o direito de morrer de velhice.
Recuemos 53 anos. O nascimento do futuro mestre do cinema italiano. Pier Paolo Pasolini veio ao mundo a 5 de Março de 1922, em Bolonha. Frequentou o liceu e a faculdade aí, onde teve como professores o historiador de arte Roberto Longhi e o crítico literário e filósofo Gianfranco Contini. Passava os verões em Casarsa, cidade de origem da mãe, onde se refugiou em 1943 para fugir à chamada do exército.
Em 1945, Guidalberto Pasolini, o único irmão do cineasta, morreu durante uma emboscada entre grupos de partigiani (membros da Resistência italiana), na II Grande Guerra. O móbil fora a divergência de ideologias políticas.
Em 1947 inscreveu-se no Partido Comunista. Encontrou um emprego como professor perto de Casarsa, mas foi despedido devido a um obscuro episódio de homossexualidade, ilegal na altura. Deixou a cidade em 1949, e mudou-se para Roma, vivendo nos subúrbios e ganhando a vida com explicações e ensino em escolas particulares.
A descoberta do mundo do proletariado romano inspirou-lhe para escrever os romances Vadios (1955) e Uma Vida Violenta (1959), que provocaram grande escândalo, mas asseguraram-lhe o primeiro êxito literário.

Nos anos 50 começou a sua carreira no cinema: colaborou em alguns guiões (entre os quais Le notti di Cabiria de Federico Fellini), e a partir de 1961 realizou filmes como Accattone, Uccellacci e Uccellini, Edipo Re, Medea, Decameron e Salò.
Nos anos 60 publicou Il Sogno di Una Cosa (1949), mais poemas (Poesia em Forma de Rosa, 1964, e Transumar e Organizar, 1971), e teve uma carreira ativa como crítico militante em diários e revistas. A sua produção teatral conta com seis tragédias, escritas entre 1966 e 1974: Calderón, Afabulação, Pilades, Pocilga, Orgia e Besta de Estilo.
Obra: Pasolini, o profeta do apocalíptico
Pasolini foi um dos mais controversos intelectuais europeus do pós-Guerra. Mais conhecido pelos seus filmes extremos e polémicos, ele também foi um prolífico autor de romances, poesia, teatro e ensaios. Como jornalista, escreveu sobre cultura e política.
Contudo, o trabalho como cineasta foi onde Pasolini colocou toda a sua essência, criando historias de horror, paixão, medo, soberba, questionamento e espiritualidade.
As suas personagens viviam sempre à margem da sociedade. Os seus temas eram de ordem universal, mas abordados filosófica, social e politicamente - explorou a morte, o sexo, o catolicismo e o marxismo.
Pasolini visitou a mitologia grega em Il Vangelo Secondo Matteo, Edipo Re e Medea. Muitos consideram que o ápice da sua carreira veio com a chegada do provocativo, escandaloso e obscuro Salò o le 120 Giornate di Sodoma, o seu último filme, realizado em maio de 1975.
Baseado no livro do Marquês de Sade, o filme mostra um grupo de jovens que sofre uma série de torturas físicas, mentais e sexuais pelos dirigentes fascistas, em 1944, durante o regime de Mussolini. Entre o terror e a poesia, entre o sangue e as fezes, a despedida de Pasolini é tida como o clímax da sua obra. A morte do cineasta foi tão chocante quanto a sua obra.
É sempre importante falar sobre Pasolini e os seus textos. Não é que a obra de Pasolini estivesse esquecida, mas as suas análises sobre a Itália dos anos 60 e 70 alimentam, hoje em dia, uma série de reflexões sobre a sociedade em que vivemos.

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