Guionistas: mais ofuscados que a própria sombra
- Florbela Caetano
- 12 de dez. de 2016
- 2 min de leitura
Ser-se guionista não é fácil. Ser-se guionista em Portugal é ainda mais difícil, dizem os profissionais do nosso país. Tiago R. Santos é um desses casos de criadores de histórias que vivem no anonimato, mas que ajudaram a criar fenómenos de bilheteira.
Mais de 230 mil pessoas foram às salas de cinema portuguesas para assistir à história de Call Girl. Realizado por António Pedro Vasconcelos, o filme foi escrito por Tiago R. Santos, mas pouco ou nada ouvimos dizer sobre este último.
Tiago R. Santos Call Girl
Há uns anos, o argumentista partilhou uma história que descreve a falta de reconhecimento que a profissão ainda atravessa no nosso país. Resumidamente, o texto contava que uma vizinha de Tiago tinha comprado o DVD do Call Girl e que queria que os atores assinassem a capa. O guionista manifestou desconforto em ter que voltar a contactar os atores e ofereceu-se para ser ele próprio a assinar. Mas a vizinha recusou. E ainda lhe disse que adormeceu a meio do filme.
Ao lermos a história, podemos ficar indignados. Contudo, Tiago R. Santos explica que “só deve haver uma motivação para quem deseja escrever para o cinema e televisão: uma vontade irresistível de contar estórias”. Por isso, a fama não cabe no meio. A ideia é que, numa profissão que caracteriza como “instável e solitária”, só vingam, em Portugal, os argumentistas que trabalham para o formato de telenovelas.
Mas os problemas de quem escreve as histórias de audiovisual não acabam aqui. Em Portugal e no resto do mundo, prazos apertados e exigências incompreendidas são as dificuldades mais apontadas pelos guionistas.
Numa paródia que serviu de lançamento ao livro de banda desenhada ¿DÓNDE ESTÁ EL GUIONISTA?, o escritor Andrés Palomino e o ilustrador Àlex Roca fazem o retrato da profissão que vive na sombra:
Factos
O normal, no nosso país, é que os guionistas sejam freelancers.
Em Portugal, os guiões são escritos de borla e só são pagos se forem produzidos. Nos Estados Unidos, uma produtora interessada num guião “aluga” o argumento ao autor para garantir a exclusividade da obra, independentemente de vir ou não a ser produzida.
Quando os guionistas trabalham como empregados de empresas televisivas, podem ser remunerados mensalmente.
No caso da televisão, os guionistas cedem os direitos às produtoras, que os cedem depois aos canais televisivos.
Não há uma lei que diga que os argumentistas portugueses têm que ser remunerados pelas edições em DVD.

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