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SER-SE GUIONISTA NÃO É PARA QUEM QUER SER FAMOSO

  • Carina Teixeira
  • 26 de dez. de 2016
  • 2 min de leitura

Escrever estórias em Portugal está longe de ser um mar de rosas! Passando pelas horas intermináveis a escrever, o cansaço de fazer um trabalho e o alívio por terminar o projeto, que se segue, imediatamente, por um desespero por não ter nenhum trabalho em mãos.

Tiago Santos – guionista português responsável por filmes como Call Girl – tem um episódio que representa, na perfeição, o que é ser-se guionista em Portugal. Pouco tempo depois de Call Girl ser lançado em DVD, uma senhora, dona de um café na rua de Tiago, comprou o DVD e, por saber que ele era o escrevera, disse-lhe:

-“Olá Tiago, olha, comprei o ‘Call Girl’.”

-“Porreiro. Obrigado.”

-“Sabes o que é que era giro? Se pedisses aos atores para me assinarem a capa”

-“Não sei, acho que é um bocado estranho. Não falo com eles há algum tempo… Não sei se me apetece fazer isso. Ter que lhes telefonar e tal…”

-“Ok, pronto, tá bem, paciência”

-“Mas, se quiseres, eu posso assinar”

-“Porque é que quero a tua assinatura?”

-“Porque fui eu que escrevi o filme?”

(momento de pausa, silêncio algo desconfortável)

-“Nã’, deixa estar”

Tiago Santos revela que esta quase indiferença para com os guionistas é “perfeitamente normal”, que ser-se guionista não é para quem quer ser famoso. Tiago vai mais longe e defende que só deve haver uma motivação para quem deseja escrever cinema e televisão: uma vontade enorme de contar estórias. Qualquer coisa para além disto não justifica a vida instável e solitária que está associada à vida de um guionista.

“Por cá [Portugal] é norma abdicar de todos os direitos sempre que se assina um contrato”, explica João Nunes, presidente da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos e autor da série “Inspetor Max”. E acrescenta ainda que o cinema em Portugal nada mais é que “um passatempo de luxo”, que é muito pouco reconhecido.

A própria legislação não apoia a expansão da indústria cinematográfica. Para se conseguir filmar em Portugal é necessária uma autorização por parte da SECA (Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual) – órgão consultivo do Ministério da Cultura – que é constituída por agentes do setor, distribuidores, canais de TV, produtores - basicamente quem paga, produz e realiza os filmes.

Apesar de tudo isto, o argumentista Tiago Santos sublinha que ser-se guionista é muito gratificante e, aconselha: “escreve sempre aquilo que gostarias de ver. Tu és a tua primeira audiência”. Porque quem realmente tem como sonho ser contador de estórias não deve desistir, uma vez que, apesar de todos os “se nãos”, o guionismo vale a pena.

 
 
 

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