Cidade de Deus
- João Lopes
- 25 de mai. de 2016
- 3 min de leitura
Cidade de Deus é um filme brasileiro de 2002 que foi dirigido por Fernando Meirelles, que também esteve responsável pela realização de O Fiel Jardineiro (2005) e O Ensaio sobre a Cegueira (2008). A história foi escrita por Paulo Lins, que é também conhecido por outras obras como Cidade dos Homens (2002) e Quase Dois Irmãos (2002), e que foi posteriormente adaptada ao cinema por Bráulio Mantovani, como guionista. Esta obra cinematográfica ganhou vários prémios em diferentes festivais de cinema, como o de melhor filme, melhor diretor, melhor guião adaptado, melhor fotografia, melhor montagem e melhor som no Grande Prémio do Cinema Brasileiro de 2003, por exemplo. Este foi ainda indicado para Óscares da Academia de 2004 nas categorias de melhor realizador, melhor guião adaptado, melhor edição e melhor fotografia, não tendo obtido nenhum destes títulos.

O filme Cidade de Deus retrata o crescimento do crime organizado numa das favelas mais perigosas do Rio de Janeiro, em inícios dos anos 80, a “Cidade de Deus”. A estória acompanha a construção e evolução da própria favela, a partir dos anos 60, e, principalmente, o aparecimento do crime naquele meio, que se faz notar pelos sucessivos roubos, o narcotráfico e a violência.
Partindo para a análise do guião, podemos denotar que a estória é-nos narrada do ponto de vista de Buscapé (Alexandre Rodrigues), que é um miúdo que vive na Cidade de Deus, mas que, ao contrário de muitos outros (como Zé Pequeno - Leandro Firmino, o seu antagonista), tenta ao máximo não se envolver no mundo do crime e acaba por simbolizar aqueles que lá vivem e que são vitimas da violência. Esta situação apresenta-se, então, como uma forte crítica social, pois no Brasil os moradores da favela são ainda rotulados como criminosos. Também é feita referência a outro grande problema do contexto brasileiro, o da corrupção policial.
Outro ponto forte da narrativa está também na forma como o drama é conduzido. Este acaba por narrar a vida dos personagens e os vários eventos que vão ocorrendo, entrelaçando-os e criando, assim, uma teia lógica que prende a atenção dos espectadores de início a fim.
A estória divide-se em 3 partes. A primeira parte faz referência à construção da favela (anos 60) e ao aparecimento do primeiro gang de crime organizado, bem como às primeiras desigualdades sociais vividas pelos moradores da favela, que são tratados como inferiores. Do ponto de vista técnico, o tratamento das cenas é caracterizado por cores quentes e a passagem entre as cenas é feita num ritmo mais lento. A segunda parte diz respeito aos anos 70, evidenciando a complexificação da marginalidade do meio, com o surgimento do narcotráfico e com a intensificação da violência, mas também as sucessivas perdas e (re)tomadas de poder por parte dos criminosos que controlam a favela. Na última parte (inicio dos anos 80), conseguimos perceber a evolução das personagens e a verdadeira profundidade do problema, dado que se intensifica a brutalidade e caracterização da violência com uma ‘guerra civil’, em que crianças e jovens são os soldados. Aqui não há preocupações com a imagem, procura-se transmitir da forma mais real possível os acontecimentos. Por sua vez, o ritmo é acelerado, as cores são mais sóbrias e a ação intensifica-se.
Concluindo, o aspeto disruptivo deste guião está no facto de que apesar de existirem várias personagens, a que mais importa não é uma personagem, mas sim o próprio meio (a favela). É importante ainda salientar que o guião é consistente com a realidade transmitida. Para além disto, a estória tem um final feliz (o Buscapé torna-se fotojornalista, símbolo de ascensão social); e, paralelamente, um final trágico (a violência continua, surgem novos “donos” da favela).
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