'Bora' ao cinema?
- Diana Silva
- 23 de mai. de 2016
- 4 min de leitura
O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) confirmou Portugal como o país europeu com maior margem de crescimento de espectadores em sala de cinema, em 2015, face ao ano anterior, no relatório "Cinema de/from Portugal", divulgado a 9 de Maio.
Em Janeiro, o ICA já havia traçado um cenário bastante animador. Salas de cinema cheias e receitas em bilheteira a espelhar os bons ventos que sopram neste sector. Mas vamos a números. Em 2015 (relativamente a 2014) houve mais 2,5 milhões de espectadores e mais 12,1 milhões de euros a entrar em “caixa”.
No ano transato, o cinema português foi visto por mais 940 mil pessoas, registando o valor mais elevado desde 1975, segundo o ICA, num total de 14,5 milhões de espectadores.
As salas europeias de cinema registaram, em 2015, uma afluência que marca, de facto, o cinema como grande tendência: 1210 milhões de espectadores. Este número bem rechonchudo aponta para um aumento de 5,2 por cento face a 2014. Portugal (20,4 por cento), Finlândia (20,3 por cento) e Dinamarca (15,8), surgem na frente desta subida como estimou, em Fevereiro, o programa MEDIA Salles.
Entre Janeiro e Março, surge a confirmação de algo que muito agradará, com certeza, aos senhores e senhoras ligados, directa ou indirectamente, à ‘Sétima Arte’. O cinema em Portugal cresceu e os números confirmam isso mesmo. A receita bruta aumentou para 20,5 milhões de euros. O número de espectadores subiu para 3,9 milhões, em comparação com o mesmo período de 2015 (dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA).
Deadpool teve quase 356 mil espectadores e foi o filme mais visto do ano, pelo menos até agora. Em segundo lugar ficou a animação da Disney Zootopoia, com mais de 322 mil espectadores. Em terceiro, o filme The Revenant, a obra cinematográfica que deu, finalmente, o Óscar de Melhor actor a Leonardo Dicaprio, com praticamente 310 mil espectadores.
Quanto ao cinema em português, dos 7 filmes portugueses que estrearam de Janeiro a Março, o mais visto foi “O Amor é Lindo… Porque Sim!”, realizado e escrito por Vicente Alves do Ó, levando às salas de cinema mais de 28 mil pessoas.
O cinema está na moda no nosso país, sim! E até os nossos governantes já perceberam isso. Melhor de tudo: o governo aposta e estimula a produção cinematográfica com incentivos fiscais. Trocando por miúdos: as empresas que apresentem despesas mínimas de um milhão de euros, em produção cinematográfica portuguesa, terão direito a uma redução no pagamento de IRC (Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas).
Esta medida integrou a proposta final do Orçamento do Estado para 2016. O Executivo de António Costa passava, assim, para o papel este ‘empurrãozinho’ à produção de cinema nacional.
Do velho se faz novo
Para muitos é o melhor filme português e está de volta. A “Canção de Lisboa” foi realizado em 1933, por José Cottinelli Telmo, e inaugurou um género tão característico no nosso país: a comédia portuguesa.

Pedro Varela (realizador) e Leonel Vieira (produtor) decidiram que já era tempo de o trazer novamente para as luzes da ribalta. O filme original será objecto de uma remake e conta com as interpretações de César Mourão, Miguel Guilherme, São José Lapa e Nuno Markl.
Bem, parece que é possível existir tendência dentro da tendência. Estamos a voltar ao baú, a desenterrar memórias, a criar recriando. E este filme é só mais um exemplo daquilo que falo. Este regresso ao antigo, ao retro pode marcar o muito (e bom) do cinema que se faz em Portugal.
Deixo, em seguida, 10 curiosidades sobre a “Canção de Lisboa”:
Na época obteve grande sucesso em Portugal, mas também nos então territórios do Ultramar e Brasil.
Este filme beneficiou logo de um conjunto de circunstâncias: foi o primeiro filme sonoro falado em português, realizado inteiramente em Portugal e com os nossos próprios meios.
No início pensou-se na actriz Maria Sampaio para representar a principal personagem feminina do filme, mas essa ideia viria a ser abandonada. Surgiu a hipótese de Beatriz Costa, pela sua popularidade (como actriz teatral) e por encarnar a alma popular, num tipo característico e bem português.
É de salientar a sequência de “A Agulha e o Dedal”, os seus comentários, a sua coroação, quando canta para testemunhar o talento de Beatriz Costa. Dizem os críticos que nunca ninguém se mexeu como ela diante de uma câmara.
No que diz respeito à parte técnica, destacou-se a participação de especialistas estrangeiros, principalmente oriundos da Alemanha e da França.
A “Canção de Lisboa” não é apenas pioneiro deste género cinematográfico, como também um dos melhores. Por ter sido considerado um objecto de prestígio, o valor dos bilhetes eram mais dispendioso do que o habitual.
Para além dos actores, outros grandes nomes da arte portuguesa marcaram a produção deste filme. Por exemplo, três dos cartazes foram concebidos por Almada Negreiros.
Outra participação enaltecedora deste filme, como actor, foi a de Manoel de Oliveira, então no começo da sua carreira cinematográfica como realizador.
A “Canção de Lisboa”, pilar do cinema português, ironicamente não foi realizado por um cineasta. Foi o conhecido arquitecto José Cottinelli Telmo quem concebeu este filme, tendo aliás sido o único por ele realizado.
Este filme foi o quinto filme a ser transmitido na RTP, a 9 de Abril de 1957, a seguir à abertura da emissão. O sucesso foi tão grande que, muitos telespectadores, incluindo o Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, pediram a reposição do filme através de cartas escritas à estação.
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