Popmundo
- Joana Pereira
- 20 de mai. de 2016
- 3 min de leitura

A minha experiência no jogo Online Popmundo começou no dia 28 de dezembro de 2007, a convite de amigos conhecidos em outros fóruns. O jogo é um MMORPG baseado na vida musical, em que as pessoas criam uma personagem, marcam concertos, aprendem habilidades e exploram o mundo da música, tentando ser o melhor nos tops da rádio, ou na competição da cidade X ou Y, ou até ser o melhor no seu género musical.
Foi assim que começou a aventura e durante alguns anos foi nisso que me foquei, sem perceber realmente as oportunidades que esse jogo me abria. A partir do momento em que deixei de tentar lutar pelos tops e me passei a focar em criar um background para a minha personagem e em conhecer outros jogadores, descobri uma outra faceta que desconhecia até então, faceta essa que me deu a oportunidade de fazer uma coisa que adoro: escrever.
Com esta nova descoberta comecei a escrever em Português até me ver limitada a uma comunidade pouco significativa. Investi, por isso, o meu tempo em aprender inglês para poder chegar a mais gente, com os blogs que ia escrevendo sobre as personagens que fui criando. Escrever e ler em inglês passou a ser natural, e com isso comecei a conhecer pessoas de várias partes do mundo, desde a Turquia, Estados Unidos, Filipinas, Brasil, Alemanha...
A melhor parte de tudo acabou por ser mesmo a escrita. Admiro pessoas que consigam escrever livros, mas nunca tive coragem para o fazer, para criar algo só meu. O jogo deu-me a desculpa que precisava para poder escrever sem compromisso. A única diferença é que, quando escrevo, nunca o faço sozinha.
As histórias são criadas através de mensagens trocadas entre dois jogadores, onde cada um acaba por contar o lado do seu personagem. Cada história tem assim dois lados, duas vozes, e mesmo sendo essa criação metade minha, nunca consigo controlar o que o outro jogador vai fazer. É excitante escrever assim, exatamente porque nunca se sabe realmente onde a história vai parar, ou como a outra personagem irá reagir.
Também se tornou possível para mim explorar várias formas de escrita e estar exposta a diferentes realidades: escrever no passado, em terceira pessoa, com textos bastante descritivos, ou encontrar parceiros que preferem uma escrita em primeira pessoa e no presente. Há aqueles que nem gostam tanto de escrever e limitam o texto a ações, colocando-as entre **. Existem inclusive alguns que simplesmente falam e evitam a parte mais narrativa.
Ao longo dos anos já tive mais de 30 personagens, mais de 30 backgrounds, criminosos, artistas rock, personagens pudicas ou mais vadias. Já tive histórias de personagens russas descendentes dos magnatas do petróleo, bailarinas ou autênticos playboys. Já fui insultada por usar expressões que descobri mais tarde terem uma má conotação noutro país. Pesquisei ainda pequenas vilas, como algumas da Austrália, para criar um background mais credível para outra personagem. Já mandei mensagens de 2 linhas e mensagens de mais de 16 mil caracteres e já escrevi muito, li muito e pesquisei muito para crescer como escritora.
Isto é só um jogo, por vezes torna-se num vício e nem tudo é bom. Há dias em que me perco nas histórias, mesmo sabendo que há tanto para fazer fora do mundinho azul. Ainda assim, este jogo ajudou-me a conhecer-me melhor como escritora, ou pelo menos como uma pessoa que gosta de escrever. Ajudou-me a perceber com que temas me sinto mais à vontade, ou mesmo que tipo de escrita prefiro. Percebi quais são os meus pontos fortes ou as minhas fraquezas. Descobri por exemplo, que nunca consigo criar personagens que vão contra princípios que me sejam fundamentais, e que ainda tenho muito que me esforçar para conseguir tal feito. Além disso deu-me a hipótese de conhecer pessoas que, mesmo não sendo escritores de renome, partilham da mesma paixão que eu.
Não sou escritora, e não sou guionista. Escrever de forma mais narrativa e fazê-lo para guiões é bastante diferente e ainda tenho muito que aprender em ambas as vertentes. Mas com a experiência deste jogo, a minha cabeça está sempre inundada de ideias e isso já é um bom ponto de partida.
Para entrarem neste mundo:
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