top of page

“A minha sina talvez seja pegar em coisas destruídas e fazer fénix renascidas”

  • Ana Patrícia Pinto
  • 12 de mai. de 2015
  • 5 min de leitura

La Féria e a história da reabilitação do teatro ligeiro português

600.gif

Luís Filipe Valente La Féria Orta é um encenador e dramaturgo português. De gema Alentejana, nasceu em Serpa, a 17 de Maio de 1945, no seio de uma família de fazendeiros abastados. Iniciou o seu percurso nas artes do espetáculo aos 18 anos, como ator na companhia dirigida por Amélia Reys Colaço, sediada no Teatro Nacional D. Maria II.

La Féria era um galã aspirante a encenador. Foi com esse sonho, e graças a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que partiu para Londres para se formar. O Rock e as oportunidades quase o convenceram a ficar em terras de sua majestade. Mas a Diva do Fado, quando foi a Londres, cantou alto o suficiente para lhe lembrar as saudades que tinha de Portugal. O encanto que sentia por Amália Rodrigues levou mesmo o argumentista a escrever e encenar o musical biográfico “Amália”, que estreou em 2000 e esteve seis anos em cena, tendo no total mais de 16 milhões de espetadores. Mais recentemente, em 2012 apresentou também o musical “Uma noite em Casa de Amália”, considerado pela crítica como uma das suas melhores peças, onde recriou as tertúlias que a fadista realizava em sua casa.

Regressou a Lisboa, assumiu a direção da Casa da Comédia e dirigiu peças como: “Faz tudo, faz tudo, faz tudo!”, “A paixão segundo Pier Paolo Pasolini”, “A marquesa de Sade”, “Eva Péron”, “Savanah bay” e “A bela portuguesa”. Adaptou ainda autores como: Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras, Agustina Bessa-Luís e Mário Cláudio. Esteve 16 anos na Casa da Comédia e considera que lá se fez o encenador que é. “Foram 16, que valeram por 48, era viver de manhã, à tarde e à noite. Era viver com o coração, sem subsídios, a fazer um teatro que não era politicamente correto”, admitiu o dramaturgo recordando-se da peça “What happened to Madalena Iglésias”, por ele escrita e encenada em 1990, que mostrava a rivalidade entre Madalena e Simone de Oliveira. O espetáculo que começou no palco da Casa da Comédia e chegou ao Coliseu dos Recreios fez com que, no mesmo ano, Filipe La Féria fosse convidado a apresentar a peça “Passa por mim no Rossio”, da sua autoria, no Teatro Nacional D. Maria II.

Filho de Luís de La Féria de Assis e Orta e de Maria Janeiro Valente é o mais novo de seis irmãos. Cria e encena os musicais mais vistos em Portugal e é difícil dizer onde começa e onde termina o dramaturgo, o guionista e o encenador que há em La Féria. Provavelmente foi o seu lado de Guionista que decidiu que Pedro Passos Coelho não poderia ficar com uma das personagens da peça “My fair lady”, em 2002. Apesar de, o atual primeiro-ministro, no casting ter mostrado uma voz “extraordinária” de barítono, Filipe La Féria procurava um tenor. A peça chegou a ser galardoada com o Globo de Ouro de Melhor Espetáculo do Ano.

Em 1991, La Féria remodelou o Teatro Politeama, espaço na altura associado ao cinema pornográfico da capital. Penhorou bens familiares para reconstruir o Politeama e Considera-o uma das maiores aventuras da sua vida, afirmando que “só um louco é que se metia neste país a fazer um teatro praticamente sem ajuda”. Assumiu-se assim com empresário e estreou-se com “Maldita Cocaína”, em 1992. Desde aí já passaram mais de duas dezenas de peças pelo palco do Politeama, como é o caso das já referidas “My fair lady” e “Amália”, mas de outras como: “A Canção de Lisboa”, “Jesus Cristo Superstar” e “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry.

A peça “O Melhor de La Féria”, em 2011, foi apresentada no Casino Estoril e reuniu os espetáculos mais marcantes do encenador português, assim como os atores que acompanharam os 47 anos de carreira de Filipe La Féria.

Se fizéssemos ‘O Pior de La Féria’ teríamos que incluir a controvérsia no Teatro Rivoli, no Porto. Desde as manifestações contra a presença de La Féria no Rivoli e o concurso de concessão do espaço, às polémicas do estado em que ficou o teatro aquando a saída do encenador. A forma como lida com os atores também poderia fazer parte do espetáculo, que então estaria ligado o mito do ‘La Fúria’, confirmado pelo guionista que admite: “Por vezes perco a cabeça, há muito investimento, nada pode falhar”.

Dos musicais ao teatro de revista, La Féria deixa o seu nome ligado à dramaturgia, ao guionismo e à encenação. Mas foi além do teatro. Produziu, encenou, adaptou e dirigiu, para televisão na RTP1, “Grande Noite”, “Cabaret”, “Comédias de Ouro”, entre outros conteúdos sendo importante destacar como tradução sua "A Importância de se chamar Ernesto", de Óscar Wilde. Foi autor de Galas, como a “Campo Pequeno de Novo em Grande” que marcou a inauguração da Praça de Touros e a Gala das “7 Maravilhas do Mundo”, assim como das suas transmissões na RTP e na TVI. Foi também autor de quase todas as canções das suas produções para televisão. A nível internacional dirigiu o espetáculo inaugural da Europália, em 1991, e, no ano seguinte, o Dia de Portugal na Expo92 em Sevilha.

Prestes a fazer 70 anos, Filipe La Féria deixa um legado cultural inigualável em Portugal, que pode ser recordado nos pequenos vídeos captados dos seus espetáculos, nos guiões que deram livros técnicos das suas peças e também nos prémios e condecorações que recebeu, como a Grande-Oficial da Ordem do Mérito, em 2006.

Prémios

  • Prémio Arco-íris 2010, da Associação ILGA Portugal (“A Gaiola das Loucas”, na luta contra a discriminação e a homofobia);

  • Personalidade do Ano em 1984, pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro;

  • Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, a 10 de Junho 1992 por Mário Soares;

  • Prémio Personalidade do Ano, na categoria de Teatro, nos Globos de Ouro, em 2000;

  • Globo de Ouro de Melhor Encenador, em 2007;

  • Globo de Ouro de Melhor Espetáculo, em 2008, com “Música no Coração” e “West Side Story”;

  • Grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, a 17 de Janeiro de 2006, condecorado por Jorge Sampaio.

  • Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, em 2007.

Obra:

  • Passa por mim no Rossio

  • Maldita Cocaína

  • Jasmim ou o Sonho do Cinema

  • De Afonso Henriques a Mário Soares

  • Amália

  • Godspell

  • Maria Callas

  • Pierrot e Arlequim

  • Rosa Tatuada

  • Casa da Saudade (série da RTP, 2000)

  • A Casa do Lago (de Ernest Thompson, em 2000)

  • A Minha Tia e Eu (2002)

  • My Fair Lady (Minha Linda Senhora), adaptado de George Bernerd Shaw (2003)

  • A Rainha do Ferro Velho (de Garçon Kanin, 2004)

  • A Menina do Mar (de Sophia de Mello Breyner, 2005)

  • Alice no País das Maravilhas (de Lewis Carroll, 2005)

  • A Canção de Lisboa (baseado no filme de Cotinelli Telmo, 2005)

  • O Principezinho (de Saint-Exupéry, 2007)

  • Música no coração (2007)

  • Jesus Cristo Superstar (2007)

  • West Side Story (2008)

  • A Estrela (2008)

  • Um Violino no Telhado (2008)

  • Piaf (2009)

  • A Gaiola das Loucas (2009)

  • O Feiticeiro de Oz (2009)

  • Fado: História de um povo (2010-2011)

  • A flor do cacto (2011)

  • Pinóquio (2011-2012)

  • Judy Garland – O Fim do Arco-Íris (2012)

  • Uma Noite na Casa de Amália (2012)

  • Peter pan (Lisboa)

  • Grande Revista à Portuguesa- 2013

  • Robin Dos Bosques- 2013

  • Peter Pan (Porto)

  • O Melhor de La Féria (Porto)

  • Portugal à Gargalhada (2014)

  • A Noite das Mil Estrelas (2015)

 
 
 

Comments


Featured Posts
Recent Posts
Archive
Search By Tags
Follow Us
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

© 2017 por alunos de Ciências da Comunicação

bottom of page