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Kaufman: escrever o que ninguém quer dizer

  • Carolina Ribeiro
  • 24 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Charlie Kaufman. Lemos o seu nome e pensamos, de imediato, nos guiões desconcertantes por ele escritos. Só mais tarde é que imaginamos a sua figura física. Alguns relatos contam que o autor não gosta de ser fotografado e, sempre que possível, evita falar sobre si. As suas obras complexas retratam-no melhor do que qualquer outro testemunho.

A 19 de novembro de 1958, em Nova Iorque, nasceu Charlie Stewart Kaufman, um jovem judeu envergonhado e recatado. Estudou para realizar filmes, deu uns “saltos” na escrita para a televisão e hoje é reconhecido por obras únicas como Being John Malkovich (1999), Adaptation (2002), Eternal Sunshine of Spotless Mind (2004) ou Synedoche, New York (2008). O seu trabalho mais recente foi o “Anomalisa”: o filme de animação pouco convencional, realizado em stopmotion.

Antes de se dedicar à escrita de guiões para cinema e televisão, Kaufman experienciou a dramaturgia e representação. Nos tempos de escola, o argumentista participou, durante alguns anos, no clube de teatro escolar. Foi lá que interpretou o papel principal na peça “Play it Again, Sam”, de Woody Allen. Estudou cinema na Universidade de Nova Iorque, tendo lá conhecido Paul Proch, um dos seus melhores amigos e colegas de trabalho.

Muitos dos seus guiões foram negados, outros deitados ao lixo. No entanto, Kaufman teve as suas primeiras horas pagas como guionista na televisão. Escreveu episódios para diversas séries, principalmente de comédia, como a sitcom Get a Life, da Fox.

No decorrer desse processo de tentativa erro na escrita de episódios piloto, Charlie, em meados de 1994, inicia a escrita de um guião para o filme Being Jonh Malkovich, realizado por Spike Jonze – a história de um marionetista falhado que descobre um portal no seu local de trabalho, que o leva até ao cérebro do ator John Malkovich. O filme foi nomeado para um Academy Award, tendo ganho importantes prémios, como o de “melhor argumento” no British Academy of Film and Television Arts (BAFTA).

Novamente, em cooperação com Spike Jonze, Charlie escreve o guião de Adaptation que lhe valeu a nomeação de “melhor argumento adaptado” nos Óscares, em 2003 e o segundo BAFTA. Este filme é um dos mais relevantes na sua carreira, pois envolve uma versão ficcional de Charlie Kaufman, a personagem principal, um escritor que enfrenta um bloqueio criativo e recorre ao seu irmão gémeo, também roteirista, porém, bem-sucedido.

Os prémios prosseguem com o guião do seu filme mais comercial, o drama romântico Eternal Sunshine of the Spotless Mind, vencedor do seu primeiro Academy Award, de “melhor argumento original” e de um terceiro BAFTA.

De argumentista, passou a diretor e realizou, em 2008, o primeiro filme de sua total autoria, Synedoch, New York – um encenador de teatro hipocondríaco, insatisfeito consigo e com a sua relação matrimonial, torna-se obcecado com a ideia da morte.

Sabe-se que o filme é de Kaufman pela estrutura das narrativas e não particularmente pelos aspetos visuais. Com influências nítidas de Woody Allen ou Monty Python, o seu estilo de escrita pode ser caracterizado como de drama/ humor negro, satírico, filosófico e com algumas nuances depressivas. Nas suas obras debate-se questões acerca da humanidade: o fracasso que acompanha a maior parte dos indivíduos, os medos que escondemos – da morte, da doença, da solidão, do fracasso, de não nos enquadrarmos nos padrões da sociedade –, as relações e a dificuldade de mantê-las.

O autor diz que são essas características diferenciadoras que lhe dão a liberdade de escrever da maneira que quer, sem obedecer a nenhum tipo de regras. Em alguns dos seus discursos, Kaufman incentiva os aspirantes a guionistas a “simplesmente” escreverem, seguindo o próprio instinto.

 
 
 

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